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Um médico de Serra Leoa, infectado com o vírus do Ébola, foi tranferido na madrugada de hoje para ser tratado da febre hemorrágica nos Estados Unidos, onde detém residência oficial, indicou a Agência France Presse (AFP).
O voo, transportando o médico Martin Salia, deixou o aeroporto de Freetown, capital da Serra Leoa, às 02:30(TMG, hora de Lisboa), devendo chegar aos Centro Médico de Nebraska, em Omaha, nos Estados Unidos, por volta das 22:00 (TMG), refere a AFP, citando Brima Kargbo, médico-chefe na Serra Leoa.
A transferência do médico está a ser feita pelo governo dos Estados Unidos a pedido da mulher de Martin Salia, uma cidadã norte-americana que concordou em arcar com todas as despesas hospitalares, disse em comunicado o porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Jen Psaki.
"Assim como temos feito nos casos anteriores, estão a ser tomadas todas as precauções para garantir transferência de forma segura, que o cuidado fundamental a caminho seja fornecido e que o isolamento estrito seja mantido", disse Jen Psaki.
Fontes médicas afirmaram que Martin Salia está "gravemente doente" e admitiram a possibilidade de o seu estado clínico ser pior que dos anteriores pacientes tratados com sucesso no território norte-americano.
Martin Salia será a terceira pessoa a ser tratada pelo vírus do Ébola no Centro Médico de Nebraska, que, até agora, assistiu a outros doentes que apresentavam sintomas da doença, que já matou mais de cinco mil pessoas, em particular em países da África Ocidental.
Atualmente não há casos de Ébola nos Estados Unidos, onde nove pessoas foram tratadas com sucesso, mas recentemente um liberiano, Thomas Eric Duncan, morreu vítima do flagelo, em solo norte-americano.
De acordo com a última atualização feita na sexta-feira pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o vírus Ébola já causou 5.177 mortos em oito países, de um total de 14.413 casos registados, desde dezembro do ano passado.
Os países com maior número de mortes, por infeção do Ébola, são a Guiné-Equatorial, a Serra Leoa e a Libéria, sendo que neste último foi levantado o estado de emergência.
O Ébola, que se transmite por contacto direto com o sangue, líquidos ou tecidos de pessoas ou animais infetados, é um vírus que foi identificado pela primeira vez em 1976.
Não existe vacina, nem tratamentos específicos e a taxa de mortalidade é elevada, podendo o período de incubação da doença durar até três semanas.
Fonte: noticiasaominuto
Cabo Verde tem estado sob escuta do mega programa de espionagem americana, denunciado, no ano passado, por Edward Snowden. Um documento divulgado na passada sexta-feira, pelo jornal Washington Post, revela que a Agência de Segurança Nacional (NSA) andou a interceptar as comunicações do governo cabo-verdiano com os seus parceiros externos. No levantamento de dados sobre este arquipélago sequer escapam fotos de bebés, conversas privadas na Internet, além de informações sobre contas bancárias, viagens e dados biográficos de cidadãos comuns e dirigentes nacionais. A paranóia americana com a segurança parece não ter limites.
A América tem o governo cabo-verdiano debaixo de olho. Novos ficheiros secretos da vigilância que os EUA fazem sobre os restantes países mostram, afinal, que nem estes dez grãozinhos de terra escapam ao “Big Brother” americano. Na verdade, a NSA (sigla em inglês da Agência de Segurança Nacional) teve, em 2010, o aval do Tribunal de Vigilância de Inteligência Estrangeira para interceptar comunicações de todos os governos do mundo, à excepção da Grã-Bretanha, Nova Zelândia, Canadá e Austrália que, juntamente com os EUA, formam o grupo “Five Eyes” (cinco olhos) da espionagem global.
A autorização judicial permite à NSA “escutar e interceptar, através de do seu programa denominado PRISM, não só comunicações de países com os seus parceiros externos, como trocas de informações e dados sobre os objectivos de cada país”, num total de 193. O que, entretanto, não significa que os EUA estiveram a espiar todos eles.
No caso de Cabo Verde, país com relações importantes com os EUA (MCA, acordo judiciário bilateral, AGOA, Categoria 1 dos nossos aeroportos), a verdade camuflada é que a administração Obama tem o governo debaixo do olho.
Em 2008, a Casa Branca mandou seus agentes e diplomatas espionarem a propensão deste arquipélago para o terrorismo e o narcotráfico. Nesse pressuposto, os agentes deviam elaborar uma base de dados com informações biográficas, contas bancárias, cartão de crédito, viagens efectuadas, horário de trabalho, contactos telefónicos e e-mails de dirigentes e pessoas com ligações a Cabo Verde. Facto, aliás, provado antes pelos “cables” tornados públicos em 2010 pelo Wikileaks, o portal criado pelo australiano Julian Assange para divulgar ficheiros secretos da diplomacia norte-americana.
Cabo Verde mereceu uma atenção especial por parte das autoridades norte americanas, estando entre os oito países da região ocidental africana onde os EUA lançaram uma abrangente operação de espionagem, envolvendo tanto os serviços governamentais quanto os dirigentes políticos, militares e da sociedade civil, bem como do sector da economia. Esta investida, refira-se, vem desde a administração de George W. Bush, mas as novas directrizes, que incluem Cabo Verde e os restantes sete países da região saheliana, foram comunicadas às embaixadas dos EUA nesses estados a 16 de Abril de 2009, portanto, já durante a gestão de Barack Obama e quatro meses antes de Hillary Clinton, secretária de Estado, encetar um périplo pelo continente africano, tendo passado por Cabo Verde, com o impacto que se sabe.
O telegrama de Hillary Clinton enviou era claro: “O Departamento do Estado está desesperado por informações sobre o Burkina Faso, Cabo Verde, Chade, Gâmbia, Mali, Mauritânia, Níger e Senegal. Queremos saber tudo acerca de agitações sociais, tráfico de drogas, padrões de governação e detalhes sobre o sistema de telecomunicações. Os relatórios devem incluir, tanto quanto possível, informações sobre pessoas com ligações à região oeste africana (Sahel): organismos e cargos; nomes, posições e negócios; números de telefone, celulares e fax; lista de contactos, incluindo números de telefone e lista de contactos de e mail; cartões de crédito; viagens; horário de trabalho e outras informações biográficas adicionais”, lê se no despacho, que pediu também informações sobre a segurança, governação, economia e sistemas de telecomunicações, no fundo, os quatro eixos principais da espionagem desencadeada pelos serviços de inteligência norte americana em Cabo Verde.
No capítulo da governação, a ordem era para que os agentes averiguassem os níveis de liderança no país, a actuação dos partidos da oposição, além de dados biográficos e recursos financeiros dos principais actores políticos e sua opinião sobre as políticas americanas a nível global. Em suma, um “Who’s who” (quem é quem) para melhor facilitar as abordagens políticas dos EUA em Cabo Verde. Estabilidade governativa e democrática, corrupção, direitos humanos, saúde, segurança alimentar, actividades da banca e do mercado negro, políticas ambientais e relações externas são outros itens que deveriam ser apurados.
Ora, segundo ficheiros da própria NSA, a vigilância americana extrapolou a recolha de dados de tal forma que até fotos de bebés, imagens de sexo explícito e conversas de cidadãos comuns estão armazenados na base de dados da agência de segurança interna dos EUA. Ou seja, qualquer cabo-verdiano esteve ou está com ficha feita pelos serviços de inteligência americanos, sobretudo se tiver conta no Facebook, Google e MSN, páginas Web vítimas dos ataques dos engenheiros da NSA. Segundo o Washington Post, de sexta-feira passada, 90% dos “investigados” não têm relação alguma com terrorismo ou qualquer tipo de actividade ilegal.
Barack Obama já desdramatizou estas informações, mostrando que desde que pôs em prática o PRISM – o tal programa de espionagem que o ex-funcionário da NSA, Edward Snowden, denunciou, estando exilado em Moscovo desde então – os serviços de espionagem conseguiram impedir mais de 100 atentados. Motivo para espionar massivamente todo o mundo? Aliás, Washington Post escreve que, para a NSA, os dados recolhidos de pessoas que não são ameaça aos EUA são “incidentais”, mas, conclui o prestigiado jornal, “incidental não significa ingénuo”. E a verdade é que países como Brasil, Alemanha e França insurgiram-se contra o programa da NSA, criando fissura nas relações que tinham com a América. A Cabo Verde, é claro, por depender largamente da bondade do Tio Sam, só restará seguir a máxima crioula: “sufri caladu”.
Fonte:MK